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Para compreender o fim de Daenerys Targaryen, devemos examinar algumas das profecias que ela recebeu ao longo de sua jornada.
“Passei a vida em terras estrangeiras. Muitos homens tentaram me matar, nem me lembro de todos os nomes. Fui vendida como uma égua reprodutora, fui acorrentada e traída, estuprada e violada. Sabe o que me manteve viva durante todos esses anos no exílio? A fé. Não em algum deus, não em mitos e lendas. Em mim mesma. Em Daenerys Targaryen. O mundo não via um dragão havia séculos, até os meus filhos nascerem. Os dothraki não tinham cruzado o mar. Nenhum mar. Eles cruzaram por mim. Eu nasci para comandar os Sete Reinos. E vou comandar”.
Daenerys diz para Jon Snow no episódio “A rainha da justiça” da sétima temporada de Game of Thrones.
Daenerys louca?
Muito foi dito a respeito de Daenerys ter se tornado a rainha louca.
Isso até faz sentido se pensarmos que tanto o livro quanto a série estabelecem que a dinastia dos Targaryen teria uma tendência à loucura.
Jaehaerys II Targaryen até dizia que quando um novo membro da família nasce, os deuses jogam uma moeda para cima e o mundo prende a respiração para esperar de que lado a moeda vai cair. Loucura e poder são os dois lados de uma mesma moeda e a linha que divide estes dois destinos é bem tênue.
No entanto, é preciso lembrar que a Mãe dos dragões apenas está perseguindo seu objetivo inicial que é conquistar o Trono de Ferro e, Cersei mostrou que não iria entregá-lo de bandeja para a rainha Targaryen.
Para compreender o fim de Daenerys, vamos retornar para algumas profecias que foram feitas para Khaleesi desde o início da história, sobretudo, nos livros.
- Leia também: Quando a Casa Targaryen foi para Westeros?
Profecia de Mirri Maz Duur
A Mirri Maz Duur era uma sacerdotisa que foi “salva” pela Daenerys, mas que preferia ter morrido, lá na primeira temporada. Quando Khal Drogo estava morrendo, a Mãe dos dragões pediu à feiticeira que o salvasse. A mulher disse que para isso seria preciso realizar um sacrifício de sangue e pediu que o cavalo de Drogo fosse sacrificado para o ritual.
Porém, Mirri Maz Duur enganou Daenerys e usou o sangue do filho que estava em seu ventre para reviver o Khal, que não teve sua alma trazida a vida, somente seu corpo. A Nascida da Tormenta pergunta a feiticeira sobre quando seu amado voltará a ser como era e a feiticeira narra a profecia:
“Quando o sol nascer no oeste e se pôr no leste.
Quando os mares secarem e as montanhas forem sopradas pelo vento como folhas.
Quando seu ventre estiver pronto a ganhar vida e der à luz um filho vivo.
Então, ele voltará, e não antes ele regressará”
Num primeiro momento, esta parece ser só uma maneira de caçoar de Daenerys e dizer “nunquinha, querida”. Mas sabemos que nada é por acaso (ao menos, na lógica estabelecida nos livros) e muitos acontecimentos tiveram como base as profecias. Inclusive, algumas coisas dessa profecia já podem ter acontecido.
Nos livros, um príncipe da casa Martell (cujo símbolo é um sol), nasce em Westeros (ocidente) e morre em Essos (oriente) se referindo ao fato de o “sol nascer no ocidente e morrer no oriente”.
Agora, “quando os mares secarem” poderia ser uma referência aos acontecimentos do episódio três da última temporada. Na Batalha de Winterfell contra o Rei da Noite, vemos um verdadeiro “mar Dohtoraki” desaparecer ao avançar contra a escuridão.
“Quando seu ventre voltar a ganhar vida” é o trecho mais desafiador para quem está procurando respostas. Entretanto, esta parte foi tirada da primeira vez em que a profecia aparece na série, mas na sexta temporada, quando Khaleesi é capturada pelo atual Khal dos Dothraki e ele quer ter um filho com ela, a Mãe dos dragões repete a profecia de Mirri Maz Duur acrescentando a parte que não havia sido mencionada anteriormente. Para fins de curiosidade, este recurso narrativo recebe o nome de RETCON.
Por muito tempo, os fãs acreditaram que essa seria uma profecia a respeito de Khal Drogo. Porém, dados os acontecimentos mostrados na série, ela pode se referir ao retorno de Viserion, com o Rei da Noite.
Profecia da Casa dos Imortais
A Casa dos Imortais foi um episódio que ocorreu na segunda temporada de Game of Thrones e também no segundo livro A Fúria dos Reis. Existem algumas diferenças entre o que aconteceu na série e o que aconteceu nos livros, mas as duas narrativas podem contribuir para a compreensão do desfecho da Rainha Nascida da Tormenta.
Quando Daenerys está em Qarth, na casa do Xaro Xhoan Daxos, um dos comerciantes mais ricos da região, ela se depara com a existência deste lugar onde os feiticeiros habitam.
O motivo que a faz entrar no lugar é diferente na série e nos livros.
Na série, um desses feiticeiros, o Pyat Pree, sequestra os dragões e prende-os dentro de uma “casa” misteriosa. A Mãe dos dragões precisa, então, entrar para recuperar seus filhos.
Logo na entrada, vemos a sala do Trono de Ferro escura e com sua estrutura completamente destruída. O teto foi danificado e ela está repleta do que, anteriormente, dizia-se que era neve e que o inverno havia chegado em Porto Real, mas agora, sabemos que são cinzas de uma cidade destruída.
Na sequência, ela passa pela Muralha de Gelo e encontra Khal Drogo e o filho, Rhaego. Mas logo percebe que se trata apenas de uma visão e não deve permanecer ali.
Finalmente, ela encontra os imortais, que nada mais são que o próprio Pyat Pree fazendo truques, sumindo e aparecendo por toda a sala. Ele diz que irá manter ela para sempre presa ali com os dragões, até que Dany ordena um dracarys aos seus filhos e queima o feiticeiro dando fim à visão.
Já nos livros, o mesmo feiticeiro diz que lá ela terá informações que vão ajudá-la na conquista dos Sete Reinos, ele ainda fala que lá ela irá conhecer a verdade. Então, alerta:
“Lá dentro, verá muitas coisas que a perturbarão. Visões adoráveis, e de horror, maravilhas e terrores. Imagens e sons de dias passados, dias por vir e outros que nunca aconteceram”.
Antes de entrar ela bebe um líquido azul, que chamam de sombra da tarde, o vinho dos magos. E um copo da bebida servirá para “destapar os ouvidos e dissolver a membrana que cobre os olhos” para que ela possa ouvir as verdades que serão mostradas.
São, principalmente, três profecias que ela recebe dos Imortais e todas elas trazem elementos com o número três. A primeira coisa que eles falam é:
“Mãe de dragões… filha de três… três cabeças tem o dragão… mãe dos dragões… filha da tormenta… Três fogueiras tem de acender… uma pela vida, uma pela morte e uma pelo amor…”
A fogueira pela morte pode ter sido quando ela queima os Dothraki que a mantiveram prisioneira ou mesmo a destruição de Porto Real, no episódio cinco da oitava temporada. A fogueira pela vida foi aquela que Dany acendeu consigo mesma, Drogo, Maegi (Mirri Maz Duur) e os ovos de dragão para trazê-los à vida.
Resta a fogueira do amor. Várias vezes na oitava temporada Daenerys declarou seu amor por Jon Snow. Além disso, sabemos que ele foi responsável pelo sacrifício da rainha.
Na sequência da profecia, os Imortais dizem:
“(…) Três montarias tem de montar… uma para o sexo, uma para o terror e uma para o amor…”
A montaria do sexo pode ter sido o Drogo, pois todo o processo de aproximação dos dois foi muito bem detalhado até que ela conseguisse “ficar por cima” dele. A montaria para o terror pode ser o dragão que já foi montado, Drogon. E, novamente, o que diz respeito ao amor fica sem uma resposta clara.
Por fim, os Imortais terminam:
“(…) Três traições conhecerá… uma vez por sangue, uma vez por ouro e uma vez por amor…”
A traição por sangue pode ter sido aquela que a feiticeira Mirri Maz Duur cometeu, matando o filho de Daenerys em troca de um Drogo ‘vegetal’. A traição por ouro pode ter sido a que sofreu e que a levou até a casa dos Imortais. Lembremos que uma de suas criadas, a Doreah, se juntou com Xaro, em Qarth, para entregar a Mãe de Dragões para os feiticeiros.
Enfim, a traição por amor foi concretizada no final da série, com a morte de Daenerys nas mãos de Jon Snow.
Vários outros acontecimentos são vistos pela Khaleesi, como o casamento vermelho, antes mesmo dele ter acontecido, Aerys II mandando queimar toda a cidade e Rhaegar Targaryen desejando ter um terceiro filho, que não poderia ser com Elia, já que ela não poderia mais engravidar.
No meio dessas várias cenas, ela vê também “um grande animal de pedra exalando fogo de sombras”. Uma clara referência ao fim de seu dragão Viserion.
Por último, os Imortais se referem a Daenerys como “Mãe de dragões, matadora de mentiras…” sugerindo que a Conquistadora viria a acabar com as mentiras que a rodeiam e fazer a melhor escolha com base nas verdades que conhece.
Com o pouco tempo de desenvolvimento que os personagens tiveram na série durante as últimas temporadas, é muito provável que os livros finais entreguem nuances que não pudemos ver na adaptação.
Por exemplo, a virada de Daenerys contra todos que se colocam em seu caminho, percebendo todas as artimanhas que a cercam, tanto Varys, com sua fé oscilante nela, como Tyrion em sua tentativa de proteger a família e que, de alguma forma, colocam os propósitos da Mãe dos dragões a perder.
Profecia da Quaithe
Uma outra profecia levantada e que teria relação com fim de Daenerys é de Quaithe, uma sacerdotisa que apareceu na segunda temporada alertando Sor Jorah quanto às reais intenções de Xaro e dos feiticeiros em Qarth.
Nos livros, mesmo depois que Daenerys deixa a região, as palavras da sacerdotisa a acompanham como uma espécie de guia.
Na Dança dos Dragões, no capítulo 55, Dany se lembra de uma das várias profecias que a feiticeira enunciou para ela:
“As lâmpadas de vidro estão queimando. Logo virá a égua descorada e, dela, os outros. A lula gigante e a chama escura, o leão e o grifo, o filho do sol e o dragão do pantomineiro. Não acredite em nenhum deles. Lembre-se dos imortais, cuidado com o Senescal perfumado.”
A lula gigante é o símbolo da casa Greyjoy, pode estar se referindo à Euron Greyjoy. A chama escura pode ser o fogo vivo, pois, como sabemos, na segunda temporada, Cersei mandou os meistres de Porto Real produzirem uma grande quantidade dele. Um pouco foi utilizado para explodir o Septo de Baelor e na batalha de Água Negra, mas o restante ainda está em algum lugar. Tyrion, naquele momento, alertou que havia o suficiente para acabar com toda a capital.
O leão é o símbolo da casa Lannister e o grifo se refere à Qyburn, mão da rainha Cersei. O filho do sol, muitos dizem que é Jon Snow, e de novo, a imagem de um dragão é invocada.
Por último, a feiticeira alerta que nenhum deles é confiável e que Daenerys deve se lembrar dos Imortais, logo, de suas profecias. Quanto ao “Senescal perfumado”, sempre se referem à Varys como alguém muito perfumado e com cheiros marcantes. Mais uma vez, a profecia alerta a potencial traição do eunuco.
Sabemos que livro e série trazem conteúdos diferentes e têm motivações distintas. Mas é importante lembrar que a série parte de um mundo estruturado na mitologia criada por George R.R. Martin em seus livros de Gelo e Fogo, por isso, o material literário pode ser uma chave de interpretação para diversos acontecimentos da série.
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