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Passaram-se dez anos e temos os mesmos velhos problemas de Westeros.
E, no entanto, o sexto episódio de A Casa do Dragão traz uma narrativa marcadamente melhor, em uma crescente de episódio a episódio.
Sobretudo, pudemos ver um pouco mais da personalidade de alguns personagens que até então estavam num segundo plano, além de um grupo de crianças que podem começar a estripar umas às outras antes de atingirem a maioridade.
House of the Dragon está avançando com o tipo de trama dissimulada e malversação grotesca que esperamos de George R.R. Martin.
Fogo e Sangue ou A Princesa e a Rainha
‘A Princesa e a Rainha’ inicia e termina com cenas de nascimento, uma bem-sucedida e a outra não. (Alerta, spoilers!) O espaço intermediário é preenchido por dragões e conflitos crescentes.
Depois de dez anos, Alicent e Rhaenyra se transformaram em pessoas completamente diferentes. A jovem rainha, uma pacificadora inexperiente quando menina, tornou- se uma mulher zangada e ofendida, que chega ao ponto de solicitar que um bebê recém nascido seja levado diretamente aos seus aposentos – fazendo com que Rhaenyra caminhe ainda sangrando por todo o castelo com a criança nos braços.
Enquanto isso, o lado rebelde da princesa deu espaço para decisões mais práticas na corte real. Rhaenyra é mais comedida em suas ações, mas não abre mão da firmeza e determinação que vimos se consolidar ao longo dos últimos episódios.
Daemon, o ex-príncipe canalha (The Rogue Prince), se estabeleceu e até conseguiu ter alguns filhos com Laena. Laenor, o jovem guerreiro sensível, agora é um playboy dissipado que procura se distrair da maneira que puder.
Em outros lugares da Fortaleza Vermelha, a próxima geração de homens Targaryen está vagando por aí, parecendo tão inadequada para a liderança quanto seus antecessores.
Ao mesmo tempo, há muito que não mudou. Sor Criston ainda está por perto. (O que um Guarda Real tem que fazer para ser demitido?) Os Degraus estão uma bagunça novamente.
Ao iniciarmos a ação uma década após o casamento, encontramos uma família infeliz sofrendo em uma espécie de equilíbrio desconfortável.
Problemas de sucessão
Bem, você deve se lembrar que Harwin Strong (Ryan Corr) teve algumas interações com a jovem Rhaenyra, encontrando-a durante sua noite na cidade com Daemon e depois puxando-a para fora da briga no casamento. Aparentemente, em algum lugar ao longo do caminho, o encontro dos dois foi mais intenso, pelo menos mais três vezes.
Os herdeiros aprofundaram o intenso ressentimento de Alicent pela posição de Rhaenyra – nascido em parte do medo legítimo de Alicent sobre a segurança de sua família – levando-a a atacar todos e fazer alianças com figuras duvidosas da corte.
Ela está quase convencida de que é motivada pela esperança de que “a honra e a decência prevalecerão”, embora ela tenha se unido a Sor Criston e Larys Strong para fazer isso acontecer.
O status quo latente finalmente se torna insustentável quando os primos reais se enfrentam durante um treinamento de combate, que é monitorado por Cole.
O integrante da Guarda Real parece dar mais atenção e maiores orientações de combate aos filhos de Alicent, deixando os sucessores de Rhaenyra no “banco de reservas”.
Harwin observa a situação e comenta que os mais novos se sairiam melhor se recebessem um pouco mais de atenção. Sir Cole, então, coloca Aegon para lutar contra Jacaerys. “Filho mais velho contra filho mais velho”, ele afirma. No entanto, esta não parece ser uma luta justa.
Cole segue na discussão com Harwin afirmando que seu interesse pelo treinamento dos príncipes é bem incomum. “A maioria dos homens só teria tanto interesse por um primo. Ou um irmão. Ou um filho”, completa.
O que obriga Harwin a partir para cima dele, mas o incidente lança um holofote severo sobre o escândalo em andamento.
“As pessoas têm olhos, garoto!”, Lyonel Strong mais tarde gritou com seu filho. Logo os Strongs e Rhaenyra estavam saindo da cidade, deixando Alicent para planejar como trazer seu pai deposto, Otto, de volta ao jogo dos tronos. Rhaenyra volta para Pedra do Dragão com a sua família para se afastar da intensidade do conflito.
Os eventos deram início à próxima fase da história, quando os rivais do Trono de Ferro reúnem seus apoiadores e se retiram para seus territórios enquanto todos esperam pela morte de Viserys, que vaga de cadeira em cadeira, ignorando a crescente discórdia ao redor dele.
- Leia também: Quando a Casa Targaryen foi para Westeros?
Aliança perigosa
Neste episódio, vimos o fortalecimento (mesmo que não intencional de ambas as partes) da aliança entre Alicent e Larys Strong, que recebe as honras de maior ranço da semana. Ele libertou alguns homens condenados em troca de 1. incendiarem a casa de sua família, com seu pai e irmão lá dentro, e 2. abrirem mão de suas línguas.
Dado o contexto de manipulação da situação, Larys parece estar preenchendo o papel de personagem astuto ocupado por Mindinho e Varys – seu nome é até uma junção dos dois: Little Finger+Varys=Larys. Ainda que até agora ele não tenha a profundidade, sutileza e o carisma escorregadio.
O assassinato de seu pai abriu caminho para Otto Hightower retornar como Mão, mas sem deixar de revelar a enrascada em que Alicent se meteu, já que agora ela está nas mãos de Larys.
A eliminação de Lyonel e Harwin também faz de Larys o senhor da Casa Strong.
Laena Velaryon, uma figura trágica
Laena é uma figura trágica, outra ilustração das restrições que até as mulheres privilegiadas enfrentam nesta história. Nós a conhecemos aos 12 anos, sendo oferecida como uma troca política. Agora, ela morre angustiada, outra vítima do leito de parto.
“Cheguei aos limites da minha arte”, disse a parteira a Daemon. O fato de ela deixar sua paciente cambalear em direção a um dragão sugere que esses limites são bastante profundos.
Laena avaliou a situação e procurou a morte do cavaleiro de dragão que ela prenunciou antes, mas a mecânica da cena, com uma Laena exausta e dobrada de alguma forma ultrapassando Daemon até a praia, foi extremamente simbólica. Ainda mais com o estranhamento de Vhagar ao receber uma ordem de fogo para sua própria montadora.
“O parto é nosso campo de batalha”, observou a falecida rainha Aemma na estreia de A Casa do Dragão, e a série segue determinada a nos mostrar esse fato.
Miguel Sapochnik, o showrunner que dirigiu este episódio, ficou conhecido pelo público de Game of Thrones principalmente por grandes episódios de combate, e ele também foi o diretor para essas batalhas.
Essas cenas de parto extenuantes são narrativamente significativas e revelam muito sobre a angustiante precariedade e falta de autonomia que uma mulher sofre neste momento e lugar.
Admiro muito o talento de Sapochnik, mas também me perguntei como uma diretora poderia ter apresentado algumas dessas sequências.