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George R.R. Martin esclareceu diversas questões sobre os dragões do universo de Game of Thrones.
Não há dúvidas de que A Casa do Dragão conseguiu sair das sombras de Game of Thrones, mas um detalhe importante da série de origem foi destacado por George R.R. Martin (criador do universo de GoT) como ponto negativo.
Embora House of the Dragon tenha recebido a aprovação de Martin assim como Game of Thrones, nenhuma adaptação é perfeita e Martin recentemente apontou falhas em ambos os programas.
No último dia 11 de julho, o escritor compartilhou em seu blog (‘Not a blog‘) alguns detalhes sobre a construção fantástica de todo o universo de Gelo e Fogo e que pensou seus dragões com muito cuidado a partir de uma certa lógica que os tornassem consistentes em seu mundo ficcional.
Vamos analisar todos os pontos que o escritor levantou.
Anatomia dos dragões
Primeiro, Martin deixa bem claro que os dragões do seu universo têm apenas duas patas e duas asas.
Eu projetei meus dragões com muito cuidado. Eles voam e respiram fogo, sim, esses traços pareciam essenciais para mim. Eles têm duas patas (não quatro, nunca quatro) e duas asas. Asas GRANDES. Muitos dragões de fantasia têm essas asas pequenas que nunca tirariam tal criatura do chão. E apenas duas patas; as asas são as ‘patas dianteiras’. Nenhum animal que já viveu na Terra tem seis membros. Os pássaros têm duas patas e duas asas, morcegos iguais, idem a pteranodons e outros dinossauros voadores, etc.
O escritor compartilhou também seu descontentamento com a versão de quatro patas do brasão Targaryen vista tanto em Game of Thrones quanto em House of the Dragon.
Martin também destacou que não foi assim que os programas começaram, revelando que houve uma mudança para pior em algum momento.
As séries acertaram pela metade. GOT nos mostrou o brasão de duas patas correto nas primeiras 4 temporadas e a maior parte da 5ª, mas quando a frota de Dany era vista, todas as velas mostraram dragões de quatro patas. Alguém foi descuidado, eu acho. Ou alguém abriu um livro sobre brasões e leu apenas o suficiente para estragar tudo. Um pouco de conhecimento é uma coisa perigosa. Alguns anos depois, HotD decidiu que o brasão deveria ser consistente com GoT… mas eles foram com o símbolo ruim em vez do bom. Aquele som que você ouviu era eu gritando, “não, não, não”. Essas malditas patas extras até acharam caminho nas capas dos meus livros, sobre minhas objeções extenuantes.
Como vimos, o escritor também lamentou brevemente a escolha dos produtores de A Casa do Dragão pela versão de seis membros ao se esforçar para ser consistente com o programa original, observando que até mesmo algumas capas impressas de seu trabalho escrito apresentam essa versão errônea.
Ainda sobre a anatomia dos dragões, Martin conta que em sua obra os dragões precisam de comida, água e não têm brânquias. Portanto, precisam respirar. Destaca também que, como criaturas do fogo, precisam de oxigênio.
Por isso, por mais que um dragão possa mergulhar no oceano para pegar um peixe, se mantido debaixo d’água por muito tempo, provavelmente, se afogaria.
Montadores e dragões ou ‘A Semeadura’
No oitavo episódio de A Casa do Dragão, vimos ‘a semeadura’, onde homens e mulheres que fossem bastardos Targaryen poderiam tentar a sorte de domar um dragão.
O resultado descrito no livro Fogo e Sangue foi: “(…) dezesseis homens perderam a vida durante a Semeadura. O triplo dessa quantidade sofreu queimaduras ou mutilações“.
Contudo, esse vínculo entre montador e dragão parece não ter sido explorado com muito sucesso pela série — e Martin concorda com isso.
Eles se ligam aos homens… alguns homens… e o porquê e como disso, e como isso veio a acontecer, será revelado com mais detalhes em The Winds of Winter e A Dream of Spring e alguns em Fogo & Sangue.
Martin completa afirmando que, como lobos, ursos e leões, os dragões podem ser treinados, mas nunca totalmente domesticados. Eles sempre serão perigosos. Alguns são mais selvagens e mais dispostos do que outros. Eles são indivíduos e possuem personalidades. Sem contar que muitas vezes refletem as personalidades de seus montadores graças ao vínculo que eles compartilham.
O que comem e onde vivem os dragões?
Martin afirma que seus dragões são predadores, carnívoros que gostam de sua carne bem passada. Eles podem e vão caçar suas próprias presas, mas também são territoriais. Possuem covis. Como criaturas do céu, eles gostam mais do topo das montanhas e das montanhas vulcânicas.
São criaturas de fogo, e as cavernas frias e úmidas em que outros fantasistas abrigam seus animais de estimação não são para eles. Habitações feitas pelo homem, como os estábulos de Pedra do Dragão, os topos das torres do Valryian Freehold e o Fosso de Porto Real, são aceitáveis – e muitas vezes vêm com homens trazendo comida para eles.
Se não estiverem disponíveis, os jovens dragões encontrarão seus próprios covis… e os defenderão ferozmente.
Os dragões são criaturas do céu. Eles voam e podem cruzar montanhas e planícies, cobrindo centenas de quilômetros mas não o fazem, a menos que seus cavaleiros os levem até lá. Eles não são nômades. Se fossem, teriam invadido metade de Essos, e a Perdição de Valíria teria matado apenas alguns deles.
Da mesma forma, os dragões de Westeros raramente vagam para longe de Pedra do Dragão. Caso contrário, depois de trezentos anos, haveriam dragões por todo o reino e cada casa nobre teria alguns. Os três dragões selvagens mencionados em Fogo e Sangue e em House of the Dragon têm tocas em Pedra do Dragão. O resto pode ser encontrado no Fosso dos Dragões de Porto Real, ou em cavernas profundas sob o Dragonmont.
Luke voa com Arrax para Ponta Tempestade e Jace para Winterfell, no último episódio da primeira temporada de A Casa do Dragão, mas os dragões não teriam voado para lá sozinhos, exceto em circunstâncias muito específicas.
Você não encontrará dragões caçando nas terras fluviais ou na Campina ou no Vale, ou vagando pelas terras do norte ou pelas montanhas de Dorne.
Consistência na construção de mundos fantásticos
No final de seu artigo, Martin reforçou a importância de manter fidelidade e consistência em toda criação fantástica.
Em A SONG OF ICE & FIRE, eu me propus a misturar a maravilha da fantasia épica com a coragem da melhor ficção histórica. Há magia no meu mundo, sim… mas muito menos do que se obtém na maioria das fantasias. (A Terra Média de Tolkien também tinha magia relativamente baixa, e eu segui a deixa do mestre). Eu queria que Westeros parecesse real, que evocasse as Cruzadas, a Guerra dos Cem Anos e as Guerras das Rosas tanto quanto JRRT com seus hobbits e anéis mágicos.
Há um ensaio de um importante escritor que pensa muito sobre ficção em nossa contemporaneidade: “Seis Passeios Pelos Bosques da Ficção“, de Humberto Eco.
O autor explora a interação entre leitores e textos ficcionais. Eco convida os leitores a se tornarem viajantes, navegando pelos detalhes e nuances dos mundos literários. Ele discute como a narrativa envolve e imerge o leitor, destacando a importância da interpretação ativa e da cooperação imaginativa para a plena experiência literária. O ensaio reflete sobre a natureza do prazer de ler e a função da ficção em expandir nossa compreensão da realidade e da fantasia.
Martin nos leva para um lugar parecido ao propor que a fantasia precisa contar com uma lógica interna bem fundamentada para a construção de um mundo ficcional.
A fantasia precisa ser fundamentada. Não é simplesmente uma licença para fazer o que você quiser. Smaug e Banguela podem ser dragões, mas nunca devem ser confundidos. Ignore o cânone, e o mundo que você criou se desfaz como papel de seda.