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Recado! Este texto contém spoilers do episódio 3 de A Casa do Dragão, que foi ao ar na HBO em 4 de setembro. Para refrescar sua memória, leia nossa resenha do episódio anterior.
Os livros que compõem A Canção de Gelo e Fogo são enormes e muito famosos. O quarto exemplar da coleção, O Festim dos Corvos, abarca tanto tempo da história narrativa e criou tantas complexidades para George R.R. Martin que sua lista de personagens precisou ser cortada ao meio e muitos dos acontecimentos que seriam retratados ali ficaram para o quinto livro, A Dança dos Dragões.
Fogo e Sangue, o livro base para A Casa do Dragão, é, por outro lado, uma espécie de apêndice com centenas de anos de histórias contadas em uma tacada só. Os eventos do segundo episódio da série, por exemplo, levaram apenas duas páginas.
Dado esse cenário, não é surpresa que tantos problemas complexos estejam sendo resolvidos de forma tão rápida. O Rei Viserys precisava de uma nova esposa e, após alguns diálogos, a proposta chegou a Alicent Hightower. Rhaenyra ou Daemon como sucessor ao trono? A morte de um bebê resolveu o problema.
Neste terceiro episódio, o terror de Drahar, Crabfeeder (o Engorda Caranguejos), é derrotado após meses de estagnação da batalha.
Resoluções que levariam estações inteiras para se apresentar em Game of Thrones (o segundo casamento de Cersei com Loras, alguém? A caminhada de três temporadas de Arya para encontrar sua família?) estão embrulhadas aqui em 30 minutos.
Pelo menos três anos inteiros se passaram, de maneira irregular, entre os episódios dois e três de A Casa do Dragão.
Aqui está tudo o que mudou nesse tempo:
- Alicent e Viserys se casaram, o filho mais velho Aegon está completando 2 anos e Alicent está a momentos de dar à luz novamente.
- A existência de um herdeiro masculino reacendeu os mesmos problemas de sucessão que vimos no primeiro episódio a respeito da sucessão do Rei Jaehaerys, com Rhaenys e Viserys como candidatos principais ao trono.
- Os conselheiros de Viserys estão pedindo que ele nomeie o pequeno Aegon herdeiro mesmo que ele não seja o primogênito e os senhores do reino já tenham se curvado à filha mais velha.
- E Rhaenyra está se escondendo com apenas sua ira e um musicista para fazer companhia.
O isolamento de Rhaenyra
Neste episódio, tivemos um breve vislumbre do isolamento de Rhaenyra frente às novas dinâmicas de sua vida. Claro, seu pai desalinhado e casado com sua melhor amiga de 17 anos não devem ter facilitado em nada o processo de luto pela perda de sua mãe.
Quando a condição da gravidez de Alicent é levantada a caminho da caçada, Rhaenyra questiona porque ela está realizando a viagem com a gestação em tal ponto. Aqui, vale lembrar que o fato da morte da mãe e Rhaenyra ecoa, já que ela morreu durante o parto de seu último filho que viveu apenas por algumas horas.
Todo o episódio é sobre a necessidade da herdeira ao trono de ferro de realizar um casamento para fortalecer sua sucessão. No entanto, ela não deseja se casar com qualquer nobre.
Para aliviar a pressão do evento da caçada, Rhaenyra foge e é seguida por Sor Cristan Cole.
Mais tarde, os dois se encontram na clareira e ambos são atacados por um porco selvagem, mas a princesa herdeira esfaqueia o animal com tal afinco que faz transparecer seu desejo de vida. O impulso comparado com o golpe morno e impreciso de seu pai em um veado amarrado, é contrastante.
Em meio a isso tudo, há uma sensação de que Viserys está lentamente mancando em direção à morte.
- Leia também: Quando a Casa Targaryen foi para Westeros?
A Caçada
O evento em homenagem ao segundo dia do nome de Aegon é uma grande demonstração de poder e apresentação do filho do Rei às principais famílias de Westeros.
A dinâmica é interessante, pois mostra as atividades relacionadas a caçada do lado de fora das tendas e as relações entre as mulheres em seu interior.
Vemos também a aproximação de Larys Strong, o filho mais novo de Lorde Lyonel, mestre da lei, ao círculo de mulheres. Larys terá um papel importante ao longo da disputa pelo trono e aqui vemos os primeiros passos da relação com a rainha.
Quando Rhaenyra se aproxima da discussão a respeito do conflito em Stepstones, uma das senhoras pergunta a sua opinião e ela responde afirmando que nunca esteve na região. Lady Caera Redwyne sutilmente questiona a indicação de Rhaenyra ao trono, mas Alicent a interrompe afirmando que a princesa é mais adequada ao cargo do que seu tio, Daemon.
A personagem de Rhaenyra está sendo delineada cada vez mais claramente como alguém que não irá se curvar frente às vontades das pessoas em seu entorno. Quando abordada por Jason Lannister com uma oferta de casamento disfarçada de ‘tenho recursos suficientes para construir um fosso de dragão em Casterly Rock’, ela educada e diretamente recusa a oferta com um ‘obrigada pelo vinho’.
Logo em seguida segue em direção a seu pai (e rei de Westeros, não podemos esquecer) e questiona qual o real valor que ela tem para ele. Uma discussão acalorada se instala em frente aos presentes na caçada e Viserys responde que nem mesmo ele é capaz de sobrepor as tradições e obrigações. Ao passo que, habilmente, Rhaenyra sabe que ele escolheu sua segunda esposa, Alicent.
O Cervo Branco e o simbolismo do Rei
Aparentemente o mundo de GoT tem um apreço especial pelo simbolismo dos animais brancos (lembram do Cavalo Branco que Aria encontra em meio aos escombros de Porto Real?). Neste episódio, um cervo branco foi avistado durante a caçada.
“Antes dos dragões dominarem Westeros, o Cervo Branco era o símbolo da realeza nessas terras”, conta o comandante da Guarda Real ao rei. Otto Hightower não perde tempo e responde “e logo hoje, entre todos os dias” sugerindo que trata-se de um presságio para Aegon.
Entretanto, o animal capturado no dia seguinte não é o veado branco, mas um dos guardas ali presentes alerta que ainda é um dos grandes.
Toda a cena do abate do falso cervo branco é extremamente constrangedora. O animal está completamente imobilizado, Viserys recebe uma arma especial para a tarefa e erra o golpe, causando mais sofrimento ao animal. Por fim, é preciso sinalizar ao rei o ponto certo para o golpe final.
Ao concluir o abate, todos aplaudem o rei, mas nós sabemos que não se trata de um feito grandioso. Na verdade, Viserys está rodeado de aduladores e pessoas que esperam tirar vantagens.
Em contrapartida, pouco antes de regressar ao acampamento com Sor Criston Cole, o cervo aparece a Rhaenyra e a princesa tem a chance de abatê-lo e mostrar alguma espécie de prestígio pelo feito. Contudo, ela decide deixar o animal fugir livremente.
Mas o que isso tudo significa?
O Cervo Branco representa a coroa. O fato de terem encontrado um “falso cervo branco” para o abate de Viserys sugere que ele não deveria ter sido coroado, logo, trata-se de um falso rei.
O surgimento do animal para Rhaenyra mostra que ela é a verdadeira herdeira ao trono e sua decisão de deixá-lo partir sugere que a princesa não está disposta a sacrificar tudo pela coroa.
Fim do conflito na Triarquia (ou não…) e a Guerra pelos Degraus
A Triarquia também é conhecida como o Reino das Três Filhas ou Tríade e é uma aliança entre as Cidades Livres de Myr, Lys e Tyrosh.
O Príncipe-Almirante de Myr, Craghas Drahar, o Engorda Caranguejos, liderou uma invasão aos Degraus, conjunto de ilhas no Mar Estreito, ao leste de Dorne e das Terras da Tempestade. Craghas passou a cobrar pedágios cada vez mais abusivos para os navios de comércio que passavam pela região e escravizaram mulheres e crianças para levá-los aos seus bordéis.
O minuto de abertura deste episódio apresenta um pouco de como o conflito tem se desdobrado durante os últimos dois anos.
Um marinheiro chora enquanto o Crabfeeder bate ferro em suas palmas, e então grita de alegria quando Daemon e Caraxes surgem sobrevoando a região. “Me salve!” ele grita, e então Daemon derruba Caraxes em uma investida e transforma aquele marinheiro em carne moída sob um dos pés maciços do dragão.
Durante os últimos dez minutos do episódio, de volta aos Degraus, Daemon está com sua popularidade em decadência entre os Velaryon. Em um momento de desenvolvimento perfeito do personagem, ele bate impiedosamente na cabeça de um mensageiro de Viserys que promete ajuda em forma de mais navios e soldados.
Mas Matt Smith realmente consegue nos fazer acreditar que Daemon pode estar se rendendo, que seus homens não conseguem derrotar um bando de saqueadores que se retiram para cavernas toda vez que uma asa de dragão bate no céu.
Então, quando Daemon entrega a Irmã Sombria, sua lâmina valiriana, realmente acreditei que seria a rendição, embora minutos antes Corlys e Laenor tivessem concordado que uma isca seria a única maneira de tirar o o Engorda Caranguejos de sua concha.
É um truque, duh!, mas bonito, e uma prova da bravura e tolice de Daemon.
Se Rhaenyra provou sua coragem com aquele punhal na barriga de um porco, Daemon fez o mesmo, sozinho, cortando dezenas de homens, levando três flechadas e ainda arrastando metade do torso do Engorda Caranguejos através da maré.
Viserys pode jurar a Rhaenyra: “Pela memória de sua mãe, você não será suplantada”, mas Daemon ainda está lá fora, fazendo picadinho de seus inimigos, esperando nos bastidores o momento de jogar de lado a proverbial bandeira branca e fazer seus movimentos em direção ao Trono de Ferro.