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Miss Americana, documentário de Taylor Swift para Netflix, abre uma janela rara e honesta sobre o que faz da cantora uma das maiores estrelas do planeta
Eu estava chegando no ensino médio quando Taylor Swift começou a sussurrar seus contos de fada em meu ouvido.
A primeira vez que soube da cantora foi em um filme da Disney, Hannah Montana. Swift fez uma participação no longa, cantando “Crazier“. “Fearless“, seu segundo álbum, foi lançado quando eu tinha 13 anos, repleto de história de paixões não correspondidas e romance shakespeariano e, claro, cavaleiros de armadura brilhante. Quando “Speak Now” chegou, aos meus 15 anos, fomos deliciados com dragões, beijos na chuva e reinos inteiros para salvar.
Taylor vendeu escapismo, e eu – assim como muitas meninas – era uma cliente ansiosa. Não me importava muito com quem ela era nos bastidores, estava mais envolvida com as letras e com as histórias que me eram contadas do que com seu narrador.
No entanto, ao longo dos anos, surgiram dúvidas sobre Swift, sua autenticidade, suas motivações. As músicas e sua compositora se misturaram e o público não tinha mais certeza se poderia apreciar um sem entender o outro.
Com o passar dos anos, fomos crescendo e conhecendo mais do mundo. O escapismo já não me servia em meio a um mundo em colapso. Eu – e tenho certeza que grande parte de seu público – precisávamos entender o lugar que ocupamos nesta sociedade ao invés de apenas nos concentrar em príncipes e histórias contadas em mundo ideal. Sonhar acordada com garotos jogando pedras na minha janela não era mais uma prioridade sustentável.
O documentário da Netflix, dirigido por Lana Wilson, acompanha Taylor por dois anos, no período entre a era “Reputation” – o pop dark da cantora em seu sexto álbum – até a criação de “Lover“, seu trabalho lançado em agosto de 2019.
Todos esperávamos olhar por trás das cortinas para ter clareza da figura que aprendemos a sustentar desde crianças. Precisávamos conhecer um lado que não estava nas notícias.
Particularmente, as minhas preocupações eram as que você já deve ter ouvido em outros lugares: quão genuíno foi o novo interesse de Taylor em se manifestar politicamente? Ou mesmo suas posições frente às causas LGBTs? O que a impediu de falar antes?
“Era todo o sistema de crenças que adotei quando criança. Faça o que é certo. Faça o que é bom. Obviamente, não sou uma pessoa perfeita de nenhum ângulo, mas, no geral, o que sempre tentei ser foi … uma boa garota“.
diz Taylor logo no início do documentário.
Quando comecei a assistir “Miss Americana” estava certa do que veria: alguns bastidores de composições, Swift batendo palma sobre alguma cobertura negativa da mídia, algumas fotos de Meredith, Olivia e Benjamin – os gatos da cantora.
Claro, todas essas coisas estavam lá, incluindo uma cena de Swift extremamente empolgada com a composição de “Me!“, o primeiro single do álbum “Lover” – que, na minha opinião, é a menos interessante de todas as músicas.
Mas a cada momento em que eu pensava saber o que estaria por vir na cena seguinte, havia um ponto que me pegava de surpresa. A única coisa que eu não esperava era o quão genuíno o filme seria, a empatia que isso provocaria em mim. Ele reacendeu uma conexão com Taylor como pessoa que vai além de uma nostalgia por seus primeiros álbuns, algo que eu não sentia há muito tempo e me sinto grata por isso.
Digo essas coisas plenamente consciente de que estava assistindo uma discussão unilateral, já que o documentário se concentra apenas em como Taylor vê a si mesma, que, principalmente, parece ser uma vítima das circunstâncias de seu contexto. Entretanto, mesmo com a minha guarda alta, há uma honestidade inevitável em Miss Americana que rompeu meu ceticismo.
Atrás da cortina haviam discussões e declarações sinceras que nós não sabíamos, situações que afetaram a cantora de maneira profunda. Como seu distúrbio alimentar, a agressão sexual e a busca por justiça. Taylor nos mostra que mesmo em uma posição de extremo privilégio, passou por situações horrendas, como ter um homem invadindo seu apartamento e dormindo em sua cama ou sobre a agressão sofrida.
Sobre o caso de justiça envolvendo um ex-DJ que colocou a mão embaixo de seu vestido para tocá-la, Taylor diz: “Isso já tinha acontecido, contamos ao chefe dele, fizeram uma investigação, ele foi demitido e me processou por milhões de dólares. Então, eu o processei por um dólar“.
A discussão que aparece neste momento é o quão difícil foi tratar do ocorrido. O homem a assediou sexualmente, haviam sete testemunhas e uma foto que comprova o crime.
Claro que não existe nada, absolutamente nada, de positivos em passar algo assim, mas a partir disso, Swift declara que “na próxima oportunidade que houver de mudar qualquer coisa, é melhor você saber o que defende e o que quer dizer” referindo a si mesma e a maneira pela qual tem de usar a sua voz para influenciar mudanças positivas na sociedade, percebendo que não há mais espaço para aquela boa garota que não manifesta suas opiniões e nem sua visão de mundo.
As questões sobre a mudança abrupta em seu posicionamento político também foram respondidas, com os sinceros pedidos de desculpa de Taylor à sua equipe, mas afirmando ter certeza de que deseja estar do “lado certo da história”, apoiando publicamente dois democratas do Tennessee nas eleições de meio de mandato em 2018. A cantora afirma que sempre foi orientada a “se manter fora disso” já que ela não quer acabar como as Dixie Chicks depois de criticarem publicamente o presidente George W. Bush.
Miss Americana deixa uma coisa clara: Taylor Swift certamente não é intocável. E agora, por um momento raro, podemos compreendê-la.
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